Estou muito feliz de partilhar convosco a primeira entrevista de sempre. E estou muito feliz que seja no ano de 2018 – ano em que aprendi a diferença entre independência – interdependência – dependência

Sem querer fazer uma grande introdução quero apenas agradecer ao Vasco a disponibilidade e pelas palavras sábias que se seguem. Baseei-me no seu histograma da sua vida pois foi o mesmo que me despertou curiosidade de conhecer e entrevistar o português que viveu na Asia e que segue valores daoístas.

                                 Entrevista                               

 

P – Olho para a tua vida e vejo tempo bem aproveitado, muito já concretizado e um caminho super interessante. Como foi o primeiro contato com a cultura chinesa e o Taoísmo?

R – Em pequeno lembro-me de associar a palavra “Oriente” a mistérios. Penso que o fascínio começou desde pequeno ao ver uma série televisiva com monges shaolin. Já o primeiro contato com o Daoismo surgiu em adulto, com o estudo da macrobiótica e a leitura do Dao De Jing do Laozi. Mais tarde tudo isso foi reforçado com os tempos vividos na China e no templo daoista.

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P–  Penso que o Sahara é um sítio muito especial para ti. Faz-me lembrar o livro do Paulo Coelho – O alquimista. O que aprendeste do deserto?

 R – No deserto tomei o meu primeiro contacto com o silêncio e a importância deste para que possamos escutar com clareza o nosso âmago. Vivi também uma experiência que me fez sentir parte integrante de tudo e compreender que as “minhas” melhores qualidades não são minhas. Por estranho que pareça isto trouxe-me um inesperado alívio. Quanto menos de mim há, mais de tudo sou. Uma nuvem ao desfazer-se une-se à imensidão do céu. Quando abandonamos a nossa limitada forma tornamo-nos verdadeiramente grandes. Deixando o Vasco, surge o ser humano. Deixando o ser humano surge o ser. Deixando o ser, passamos a ser. Talvez por isto tantos são errantes na questão do “Quem sou eu?”. Procuram nos sítios certos porém do modo errado. Ser é um verbo, mas por alguma razão fomos iludidos que era uma coisa. “Eu” é um ser, quando o coisificamos tornamo-nos errantes.

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P – A revelação no Sahara mudou o rumo da tua vida ou trouxe-te confirmações ?

R – Mudou o rumo ao trazer-me as confirmações de que tudo está verdadeiramente interligado. Nada desaparece, apenas muda de forma para dar passagem a uma continuidade.

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P – Enquanto lia o infograma sobre a tua vida, houve certas experiências de vida que me fizerem lembrar de mim mesma. Por exemplo eu também estudei engenharia. É uma paixão ou algo que quiseste aprender para usar nas tuas paixões?

R – A escolha de aprender engenharia foi com o intuito de unir engenho e arte, em ciências humanas. Sempre me fez sentido a visão do período renascentista, onde nos tornaríamos mais completos não por nos especializarmos ou reduzirmos apenas numa área, mas precisamente por alargarmos a áreas diversas. É comum pensar-se que é preciso ser-se um génio para ser um polímata como o Leonardo Da Vinci, acredito sinceramente, que ser curioso e empenhado é suficiente. A maioria das crianças vêm ao mundo como polímatas e depois adulteramos para algo a que chamamos adulto. Aprender, melhorar e crescer é para sempre. Se paramos começamos a estagnar, ficando velhos e de pouco importa a idade.

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P – O que te motiva a todos os anos fazer algo diferente e a ser tão ativo?

R – Se continuo a abrir os olhos a cada manhã, sei que ainda há algo que devo realizar. Todos temos um prazo de validade incerto que podem ser 40 dias ou 40 anos, ninguém sabe. Esta é uma realidade poderosa que não devemos ignorar. Se tivermos isto bem presente em nós, não desperdiçaremos um único dia. Acho preferível termos a memória daquele chapa épica que demos na água do que passarmos a vida com medo de mergulhar. Para aproveitar a vida em pleno, temos de aprender a dominar o medo. O primeiro medo a dominar é o da mudança. Só quando nos libertamos dos apegos é que podemos ser incondicionalmente livres. É um paradoxo! Se regulamos a vida pelo medo da morte atravancamos as condições para viver em pleno. Em vida devemos respeitar a morte para amar a vida. Na morte devemos respeitar a vida e continuar.

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P – 108 nasceres do Sol. Porque é importante? E porquê 108?

R – 108 é reconhecido desde tempos antigos como o número da transcendência. O ponto exato de transformação em que ocorre uma alquimia. Repita algo 108 vezes e ocorre um pequeno desvio, uma transformação… uma transcendência que nos leva a dar um salto. Os mantras são repetidos 108 vezes para produzir um efeito especial. Os fios de contas tibetanos ou japamalas, são constituídos por 108 contas. Mesmo o número de contas no terço ou rosário cristão, é derivado destes números. Existe matemática no universo, que é expressa em toda a natureza e que muitas vezes recebe o nome de “sagrado” ou “divino”. A geometria sagrada é apenas um exemplo. Nos fundamentos daoistas diz-se que o zero cria o potencial do um, o um está na origem do dois, o dois versam o três e com este terceiro conseguimos criar todas as formas do mundo. O número três tem um significado muito especial, repetido três vezes temos um nove. Com o nove podemos provar tudo e ao repeti-lo nove vezes e mais três, teremos o 108, onde reside toda a alquimia. Com 108 conseguimos conter os arquétipos principais do universo. Nove ao quadrado com três ao cubo. Dou consultas do Qi das 9 Estrelas que identifica o arquétipo de cada individuo e que é inteiramente baseada na compreensão desta geometria ao longo dos ciclos naturais.

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P – Para quem nunca ouviu falar como explicas o Taoismo e o Daoismo?

R – Antes de mais quero realçar que Daoismo ou Taoísmo são o mesmo. “Tao” é a forma anacrónica com que se começou a escrever devido a um erro de conversão, “Dao” tem o mesmo significado sendo considerado a romanização correta do ideograma chinês, 道 (Dào). O ideograma significa triplamente o caminho, o caminhante e o caminhar. O daoismo é o sistema que nos ajuda no desenvolvimento pessoal enquanto caminhantes, ensinando-nos métodos que nos permitem harmonizar de forma simples a caminhos naturais, ou seja, alinhados com o Dao (o caminho). A título de curiosidade, os termos familiares mas anacrónicos Tao, Chi, Chi Kung, Tai chi, Kung fu, Taoyin, Tao Te King, I-Ching,Lao Tsé, entre outros serão eventualmente substituídos pelos termos oficiais Dao, Qi, Qigong, Taiji, Gong fu, Daoyin, Dao De Jing, Yi-Jing, Laozi, respetivamente. Serão gradualmente corrigidos, à medida que existirem mais falantes e estudantes da cultura chinesa. Irá demorar uns anos a correção dos erros, porém é inevitável.

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P – Como surge o projeto alqimia (alqimia.org)?

R – O projeto Alqimia surgiu inicialmente da vontade de querer partilhar alguns dos ensinamentos de Wudang para melhorar um pouco o mundo e a vida das pessoas. Ensinar que as grandes mudanças são realizadas por pequenos passos. Repetições e hábitos bem alinhados que permitem realizar uma verdadeira alquimia em cada um de nós, uma transformação. Com o tempo mais pessoas têm integrado a equipa contribuindo com outras práticas e ensinamentos. Há vários caminhos e contando que estes sejam benéficos e harmonizados com a natureza, considero-os caminhos de alquimia e alquimistas aqueles que o ensinam.

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P – Quase a terminar, agradeço-te o tempo disponibilizado e a atenção. Onde podem as pessoas interessadas te encontrar e conhecer mais do teu trabalho e dos teus serviços?

R – Atualmente estou a residir em Lisboa e pontualmente desloco-me por Portugal e no estrangeiro para formações intensivas. A melhor forma é começar pelo site alqimia.org. Para contacto indico sempre e unicamente o email@alqimia.org. Demoro algum tempo a responder porém quando respondo a minha atenção é plena e total. Se quiserem agendar uma reunião ou mesmo um Skype, estou também disponível.

A minha comunicação por telefones, redes sociais e chats está entre o inexistente a péssima. Peço a todos que sejam compreensivos e que tenham a gentileza de me contactar apenas por email.

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P – Última pergunta, qual a maior lição da vida para ti ou uma dica de saúde?

R – Ao deitar devemos refletir sobre o que aprendemos nesse dia. Se houver algo sabemos que não foi em vão. Uma dica de saúde, será a de tomarmos uma decisão inquestionável de se damos maior prioridade a ser normais ou a ser saudáveis. A normalidade atual deixa-nos doentes pelo que devemos ter bem definido em nós se a nossa prioridade é a nossa saúde ou a aceitação entre a norma em vigor. Após termos estabelecido os nossos princípios poderemos então criar algum meio termo para viver em sociedade cientes de que devemos “Estar no mundo sem ser do mundo”. Primeiro a saúde.

@movimentopostura . Quantas palavras sábias! Sinto gratidão por elas e por poder reler sempre que queira e precise lembrar. Existe algo na minha vida que comecei a fazer e farei 108 dias (até 20 de Março 2019) – Preparada para a transformação. Preparada para me ir tornando em Ouro – neste processo que é a vida.


Não se esqueçam de visitar o site do Vasco Daniel –  alqimia.org

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