Olá Queridos e Amados Leitores.

Este artigo é apenas para aqueles que querem uma vida mais plena e feliz. Aviso desde já que para isso precisarás de tomar responsabilidade pela tua vida.

Nota: Lembrem-se que quando escrever relações, estou a referir-me a todo o tipo de relacionamentos. Sejam eles profissionais, parcerias, marido-esposa , pai – filho etc. Relações entre dois seres humanos e até relações com os nossos hábitos, dos quais também nos tornamos dependentes.

Let’s do it ( Bora lá! )

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Codependência está relacionada com a auto-estima. Quanto menor for a auto-estima de uma pessoa mais codependente ela se torna. A falta de amor próprio cria um vazio, acabando por nos desconectar de nós mesmos gerando tristeza, depressão, ansiedade, medo. Nenhum destes sentimentos é agradável e acabamos por buscar preencher o vazio e ver-se livres destes sentimentos em algo exterior, na maioria dos casos, pessoas. Procuramos amor-próprio no outro. Faz sentido?

Codependência acontece em ciclos de comportamentos inconscientes pois está enraizada nos nossos hábitos. Muitas vezes passando de família para família. Como sociedade existem hábitos que tomamos como normais que, na verdade não são nada saudáveis. Hábitos como apontar o dedo por coisas passadas, por vezes até esperar “a oportunidade certa” para “lançar à cara” algo que a pessoa fez de mal. Um bom exemplo é o seguinte:

[
O dia no trabalho correu mal e estás tão cansado que só queres ficar no sofá com a pessoa amada mas, a outra pessoa teve um dia melhor, bem sucedido, está cheio de energia e quer sair e conversar e gargalhar. Todos temos momentos bons e maus e não há necessidade de infetarmos e culparmos ninguém. Cada um precisa da sua experiência. Um ficar no sofá confortável e o outro celebrar.
]

Afinal, o que são relações codependentes? Como se parecem?

Relações codependentes são relações em que basicamente um não vive sem o outro. Onde o eu deixa de existir pelo nós. Pela fraca auto-estima a identidade de cada um perde-se.
Mas,
Nada como criar um teste com uma lista de perguntas de sim ou não , onde quanto mais sim mais codependente é a relação. Aqui vai :

  • Sentes-te responsável pelos sentimentos da outra pessoa?
  • Deixas de fazer algo que gostas porque a outra pessoa não quer fazer e /ou não gosta?
  • Não te sentes livre?
  • Existem dramas e assuntos para falar mas passam, sem que haja uma conversa sincera para que não volte a acontecer, acabando por ser um ciclo de dramas?
  • Falar de sentimentos parece um tópico proibido?
  • A relação é feita de picos? Ou muito bom ou muito mau? Grandes dramas e grande reconciliações?
  • Existe uma exagerada necessidade de atenção, validação, elogios?
  • Não fazem nada um sem o outro? Não tem atividades separadas?
  • Tens necessidade de estar sempre numa relação?
  • Tens necessidade de estar sempre em contacto?
  • Sentes que estás sempre a ter que “correr em auxílio” para salvar o outro?
  • Sentes a tua energia a ser regularmente consumida pelo outro? (exemplo : estás normalmente bem disposto e a outra pessoa não, acabando por seres tu a animar constantemente mas acabando por ficar menos feliz.)
  • Existe muita justificação?
  • Não é permitido dizer não, sem que isso seja considerado egoísta e gere discussão ou drama?
  • Nada do que tu fazes parece agradar a outra pessoa? Querendo sempre mais e mais de ti. E tu querendo sempre agradar mais e mais?
  • Existe controlo?

Normalmente pessoas neste tipo de relações tendem a negar porque dói admitir. Todos já passámos ou passamos por isto mas, se respondeste que sim a alguma das perguntas acima, para alguma das tuas relações então o primeiro passo é aceitares. Relembro que quantas mais respostas sim mais o grau de codependência. Não alguma destas situações ter acontecido uma vez que a relação é codependente mas, se o normal da relação é assim. Relembro também que se trata de hábitos e hábitos são possíveis de mudar.

Porque é que relações codependentes não são saudáveis?

Além da codependência ser um sinal de baixa auto-estima, está também associada a pessoas que emocionalmente e socialmente ficaram em alguma parte do seu desenvolvimento ( não leves isto pessoalmente, todos temos as nossas histórias, ninguém fica de fora). As fases de desenvolvimento são:

1. Fase da dependência total

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Quando nascemos somos completamente dependentes dos outros. A nossa vida precisa, literalmente, de outra pessoa. Para um bebe os pais são tudo. O que pode correr mal : alguma necessidade não ser respondida e em idade adulta a pessoa procura ainda essa necessidade específica noutras pessoas.

2. Fase do afastamento

Quando a criança começa a perceber que ela e a mãe não são uma única identidade. Ela começa a afastar-se, a querer algum tempo sozinha, a explorar-se a si próprio como ser único e separado. O que pode correr mal: se os pais não permitem este afastamento e mesmo entre eles tem uma relação codependente e sem momentos sozinhos, a criança não aprende a importância e a diferença entre o EU e o NÓS, acabando por desistir e seguir o mesmo padrão.

3. Fase do conflito

Começa a haver divergências. A criança começa a querer impor-se, mostrar as próprias opiniões, diferente da dos pais e a não aceitar o que os pais querem só porque eles querem. O que pode correr mal: Os adultos à volta não saberem ter discussões e conflitos saudáveis. Não aceitam opiniões diferentes. Sem esta fase/prova passada com sucesso a criança não desenvolve habilidade de conflito, discussão, assertividade e será um adulto reprimido.

4. Fase da independência

Agora é a fase de descobrir o mundo sozinho. Esta fase é a fase de experimentar fazer coisas diferentes daquelas que se conhece e querer-se experimentar tudo. Descobrir-se os gostos pessoais, valores etc. O que pode correr mal: Os pais ou o ambiente não terem permitido que exista esta exploração saudável entre o bom e o mau. A criança não desenvolve o sentido de que é capaz de vencer na vida sozinha, tornando-se um adulto dependente. Até os desafios mais básicos poderão ser de grande stress e desarmonia.

5. Fase da partilha

Depois da independência, a criança, adolescente, adulto está pronto para se conectar com outros de forma genuína. Quem chega aqui, tem uma boa auto-estima então ele é vulnerável e seguro de si, de quem é e dos seus valores. Claro que como toda a gente vai sofrer mudanças mas está aberto a aceitá-las e partilhar essas experiências com os outros. O que pode correr mal: até na última fase algo pode correr mal! Se os pais e adultos em volta não são adultos com relações saudáveis onde há partilha, depois da independência a criança torna-se em alguém extremamente egoísta e egocêntrico, que só busca ter as suas necessidades satisfeitas e não dá nada em troca nas relações.

Este tipo de relações causam ansiedade, depressão, vazio, dependência. Alguma vez pensaram porque é que acabam sempre em relações com o mesmo tipo de pessoas? Este artigo é bom para perceber isso. Somos hábitos e padrões. Enquanto não resolveres a tua codependência e não cresceres (auto-desenvolvimento), as relações vão ser “mais do mesmo”. E, não importa quanto obtenhamos de fora (amor, amizade, diversão) . Um drogado quer sempre mais, certo? Porque só fica satisfeito momentaneamente. A lógica é a mesma.

Talvez este tipo de relacionamentos seja tudo o que conheces.  A codependência pode ser considerada uma doença social/mental/psicológica que progride ao longo do tempo (como a maioria das doenças) e, se no início a pessoa consegue ter sentimentos seus, com o passar do tempo ela torna-se cada vez mais vazia e apática de emoções. Mais desconhecida dela própria.

Além dos aspetos negativos que já referi, a codependência trás drama e controlo. O drama é bom, nos cinemas e nas telenovelas mas, quando somos nós a passar por ele, não é assim tão feliz passar por discussões desnecessárias, agressões que nos levam exatamente ao oposto do que queremos: relações saudáveis.
Quanto ao controlo, ao a pessoa tornar-se necessitada da outra (para receber a “dose”do que lhe faz falta) gera-se também um medo descontrolado de perde-la e por isso vai querer saber tudo sobre ela e vai querer controlar a sua vida. Entendem a dinâmica? Desejo profundamente que entendam. Eu já fiz tantos erros nestas áreas.

Uma pessoa codependente nunca é livre!

Há esperança! Como cortar o ciclo de codependência?

Limites e Barreiras

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Em inglês a palavra parece muito mais estilosa : Boundaries. Em português: Barreiras ou limites. Relações precisam de ter barreiras e isto, é algo que devido a termos crescido e vivido entre relações codependentes pode ser um grande desafio. Felizmente como o esforço para uma vida mais saudável e feliz numa área afeta outras, criar barreiras saudáveis numa relação é sinal de aumentar a boa auto-estima, tornarmo-nos mais assertivos, livres e felizes  e criamos relações mais satisfatórias

“Os limites nos relacionamentos funcionam nos dois sentidos: eles criam saúde emocional e são criados por pessoas com saúde emocional. Eles são algo com o qual podes começar a trabalhar hoje com as pessoas mais próximas de ti e começarás a notar uma diferença na tua autoestima, confiança, estabilidade emocional e assim por diante.” – Mark Manson

Barreiras/Limites é simplesmente dizer e agir pelo que é ok ou não ok para nós. É saber dizer que não.
Muitas vezes a pessoa codependente trabalha imenso e dá serviço além do que é saudável para ela própria devido ao medo que já vos falei, de perder o outro de quem é necessitado. Este serviço não é, no entanto sincero porque, a pessoa não está a dar (amor, amizade, serviço) pela alegria e prazer de dar mas sim para receber em troca o que tanto necessita. Normalmente, estas pessoas tendem a vitimizar-se e a ter uma atitude de : “Trabalho tanto, faço isto e  aquilo e ninguém dá valor a isso”. Esta pessoa recente porque faz para receber.
Dizer que sim ao que se está disposto a fazer sem nenhum retorno e dizer que não ao resto é uma escolha super acertada.

A escritora, socióloga e cientista Brené Brown aborda no seu último livro este tema. Ela estuda o comportamento das pessoas e as suas emoções e, para isso, precisa de fazer muitas experiências e entrevistas. Diz que uma das coisas mais chocantes da pesquisa dela é ter percebido que as pessoas com mais compaixão são também aquelas que impõem mais os seus limites e barreiras.

Como colocar limites?
Esta mudança no início pode gerar algum conflito mas lembrem-se que esta é uma das fases do crescimento e portanto é necessário passar por ela. Colocar limites não é dizer que não a tudo ou só porque agora queremos meter limites. Para que seja algo positivo e não só uma onda de rebeldia é importante primeiro ouvir a nós próprios e começar a conhecer os nossos próprios valores. Saber e viver pelos nossos valores vai tornar-nos mais integros e com isto a nossa auto-estima sobe a pico (yupaaa!).
Quando uma pessoa te pedir/exigir algo ou quiser resolver algo teu e isso te deixar desconfortável pára. Num mundo de tanto ruído e informação, parar é dos atos mais sábios. Depois de leres este artigo, a noção de codepêndencia pode não vir através da emoção mas sim através do pensamento. Nestes casos ouve. Tanto o pensamento, como emoção e intuição, todos são armas para te ajudar a crescer e ser mais saudável.

Depois de perceberes que “aquilo” não é, de alguma forma ok para ti, é hora de tentares perceber o porquê de não ser ok para ti. Este exercício mental vai ajudar-te com o tempo a perceberes os teus próprios valores. Integridade é um dos pilares da auto-estima e ela é trabalhada como todas as outras habilidades, como guiar um carro… com prática.

Não tens que chegar sempre a conclusões. Aqui, é onde impões os teus limites. Quando vos digo impor, não tem que ser rudemente, se bem que em alguns casos poderá ser necessário.

No fim de tudo, acredita, se o limite que agora estás a criar está certo para ti então também vai estar certo para o outro. E acredita também que, pessoas com barreiras saudáveis são muito mais atraentes. Ora pensa, preferes estar com alguém que te diz que sim com vontade ou com alguém que diz que sim a tudo, só para parecer bem? (outra pergunta que ficou por colocar no teste.)

História de rompimento da codependência

O Vasco está pronto para escolher a sua carreira profissional. Depois de tantos anos até terminar o secundário os pais estão felizes por ele mas, a mãe tem sonhos e vidas que não viveu porque não teve a coragem para isso. A mãe sempre quis ser cozinheira e por isso ensinou o Vasco pratos deliciosos e o rapaz aprendeu muito bem. Por isso, a mãe faz pressão para ele decidir por um curso de culinária, mais prático e o pai do Vasco, bom, o pai do Vasco só quer que a mulher fique feliz por uns momentos porque anda sempre sem energia e felicidade. O Vasco é bom a cozinhar, e até está inclinado para seguir aquilo afinal aquele tipo de relação é com o que ele cresceu. Ontem ele nem sonhava, nem se atrevia a pensar que outras possibilidades existem. Era culinária e ponto. Só que o Vasco parou por acaso neste blog e leu este artigo que o deixou a pensar. Porque o ruído em casa era muito o Vasco decidiu ir dar uma volta pelas ruas da aldeia e até pelo campo. Gosta mesmo ele de culinária? Se tivesse que fazer algo para todo o sempre, era isso que faria? Estaria a culinária certa para os seus sonhos e valores? Enquanto caminhava ele viu uma senhora idosa cair. Ela tropeçou no degrau e esfolou o joelho. Sem pensar ele já estava a ajudá-la e mesmo sem saber, sem ser bom, já estava a fazer-lhe o curativo mais criativo de sempre e a levá-la para casa. O Vasco lembrou-se que leu aqui para ter atenção a ele próprio e começou a pensar em cuidar de pessoas. Pensou durante dias porque ainda tinha um tempo até ter que se candidatar. Quanto mais pensava mais sonhava em fazer alguma diferença. Em como podia criar infraestruturas específicas para que situações como aquelas não acontecem-se mais.
Depois de muito pensar, encheu-se de coragem e decidiu dizer aos pais que queria ser engenheiro. Queria criar soluções a problemas para ajudar pessoas. Claro que o mundo de ilusão da mãe caiu-lhe aos pés e começou a dizer que todo o sacríficio dela tinha sido em vão e o pai mais uma vez ficou do lado da mãe e também mostrou desaprovação. Não que engenharia seja pior profissão do que mestre de culinária. Ambas são excelentes profissões. Isto aconteceu porque a mãe do Vasco queria ter sido mestra de culinária e por pensar que não podia colocou essa necessidade no filho.
O Vasco tornou-se um grande engenheiro, mesmo sem a aprovação dos pais. Ele foi visto como egoísta e sem compaixão pela dor dos pais mas ele viveu a sua vida e foi feliz. Passado uns anos, os pais do Vasco estavam a usar a rampa que ele criou, já bem velhinhos, que lhes permitia deslocarem-se fora e dentro de casa. Eles viveram a vida deles sem impor limites e por isso nunca chegaram a viver as suas vida. O Vasco dizer que não à culinária e à vontade dos pais fez com que ele vivesse com paixão e fosse útil para todos. Ele conseguiu amadurecer e chegar à fase da partilha.

Acho que esta história ilustra bem uma família codependente. Eu desejo que muitas, muitas pessoas leiam isto, então partilhem. Eu gostaria de ter lido isto com os meus 18 anos mas, nunca é tarde e estou grata pelas lições da vida.

Conclusão

Quando estiverem com pessoas, observem. Tomem atenção aos comportamentos entre vocês e perguntem-se : Estou eu a criar conexão com a pessoa ou codependência? 

@Ana

 

Algumas Referências

The Guide to Strong Boundaries – Mark Manson;
Boundaries, the Cure for Codependency
Broken cisterns
How To Set Boundaries: Be Generous Without Being A Doormat

 

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